Glider: Michael Biberstein

22 Junho - 15 Setembro 2018

GLIDER - MICHAEL  BIBERSTEIN

 

"Um quadro é uma imagem suspensa no tempo.

Está lá tudo, está sempre tudo no quadro, mas viajar no quadro exige tempo, exige demora."

 

Michael Biberstein (1)

 

 

A galeria tem o gosto de anunciar a exposição GLIDER  do artista Suíço-Americano Michael Biberstein (1948 - 2013), cuja inauguração terá lugar no próximo dia 21 de Junho de 2018, pelas 19h.

 

A presente mostra concentra-se num significativo núcleo de pinturas de pequeno e médio formato realizadas entre 1994 e 2010, acompanhadas por um grupo de obras sobre papel do mesmo período.  Esta seleção só foi possível graças à estreita colaboração e parceria entre a galeria e o espólio do artista.

 

Michael Biberstein nasceu em Solothurn, na Suíça. Durante os seus anos de formação em História da Arte no Swarthmore College (Pensilvânia - EUA), Biberstein passou um importante semestre junto do escritor e crítico de arte Britânico David Sylvester, que o encorajou a dedicar-se à pratica artística de modo a aprofundar as importantes questões que o animavam. Determinante para a carreira do artista foi também o encontro com a obra de Mark Rothko, que particularmente o marcou.

 

A carreira artística de Biberstein inicia-se nos anos 70 com um processo de desconstrução da Pintura, enquadrado nas premissas da arte conceptual. Esta exploração leva-o a desenvolver a partir dos anos 80, primeiro na Suiça e logo a seguir em Portugal, um trabalho em torno da Paisagem como dimensão histórica, metodológica e estética. Tendo chegado ao nosso país no final dos anos 70, foi aqui que o artista criou, primeiro no Penedo, em Sintra, e mais tarde no Alentejo (onde viveu grande parte dos quase 40 anos passados em Portugal), a atmosfera propícia à sua prática da pintura.

 

Interessado pela pintura de paisagem no pré-Romantismo e no Romantismo - e pela obra de pintores como Claude-Joseph Vernet e Caspar Wolf - Biberstein realiza uma reflexão aprofundada sobre o espaço pictórico paisagístico e sobre o modo como este é afectado pelo conceito do Sublime e pela ideia que lhe é inerente de exprimir o inexprimível. A sua pintura suscita no espectador um sentimento complexo ligado a um face a face com o incomensurável e à possibilidade de suspensão do espírito activo. A este respeito, e a propósito de possíveis conexões com a arte oriental, o artista refere :

 

"(...) o que me interessa mais na pintura oriental é o sossego. A pintura oriental afasta o pintor, mas também o espectador, de si próprio de uma maneira completamente diferente da pintura europeia. É isso, pois. É um entendimento filosófico da pintura." (2)

 

A pintura de Biberstein incita-nos à demora, a uma verdadeira alteração do regime temporal da visão. Construída a partir da paciente justaposição de finas camadas de tinta acrílica, estas pinturas convidam-nos a entrar no "campo alargado" da Paisagem, por entre melodias, meditação e Astrofísica (a que fazem referência muitos dos títulos das suas obras).

 

Um projecto especial animava Michael Biberstein no momento em que nos deixou: a pintura do tecto inacabado da Igreja de Santa Isabel em Lisboa. Este projecto foi realizado postumamente e pode hoje ser admirado graças ao generoso apoio de mecenas privados e institucionais, bem como de inúmeras pessoas que permitiram completar este último gesto do pintor.

 

A presente exposição acontece no mesmo momento em que a primeira retrospectiva do artista Michael Biberstein é apresentada na Culturgest, em Lisboa, com curadoria de Delfim Sardo.

 

(1), (2)- Michael Biberstein em entrevista com Anabela Mota Ribeiro,

Publicado originalmente na Revista Elle, 2005.