Bela Silva é a primeira portuguesa a desenhar um lenço para a Hermès

Com uma carreira construída sobre cerâmica e azulejo, Bela Silva é a primeira portuguesa a desenhar um lenço para a Hermès. A artista contou ao Observador como foi fazer arte num quadrado de seda.

É no que dá as galerias terem, por norma, grandes vitrines. Em Paris, na Galerie du Passage, os desenhos e colagens de Bela Silva chamaram a atenção de uma pessoa ligada à Hermès, que entrou, adorou tudo e quis espreitar o atelier da artista em Bruxelas. O resultado está à vista. Bela Silva é a primeira portuguesa a assinar um dos famosos carrés da casa francesa, lenços de seda que são verdadeiras obras de arte e que custam para cima de 300€.

 

“Não era propriamente o estilo da Hermès, mas eles gostaram muito. Fiz três propostas, escolheram uma e depois brincaram com as cores. Foi maravilhoso trabalhar com eles, embora durante o processo não se possa revelar nada”, conta Bela Silva. O mesmo universo visual que despertou a atenção da Hermès em Paris já esteve exposto em Lisboa, na galeria Alecrim 50, no final de 2016. “Zotten” mostrou colagens e desenhos e denunciou uma das facetas da artista portuguesa, a de recoletora. “Estou sempre a colecionar papéis, pedaços de tecidos e velharias da Feira da Ladra”, conta.

 

As composições, depois levadas para Paris, caíram nas graças da Maison des Carrés, a linha da Hermès que reúne lenços desenhados por artistas, ilustradores e designers de todo o mundo e onde nenhum autor português tinha entrado até agora. La Maison des Oiseaux Parleurs (A Casa dos Pássaros Falantes) é o nome deste acessório de luxo e quando questionada sobre se a colaboração terá ou não continuidade, Bela Silva responde de forma, no mínimo, suspeita: “Está muita coisa a acontecer”. Para a artista, que soma já mais de 20 anos de carreira, esta foi a primeira vez que viu a sua arte aplicada à moda, uma área que quer começar a explorar daqui para a frente.

 

Aos 52 anos, Bela Silva vive entre Lisboa e Bruxelas. Diz que, enquanto artista, se sente estimulada em qualquer parte do mundo e isso nota-se no currículo. Já viveu em Chicago e em Nova Iorque, já expôs nos Estados Unidos e no Japão. Em Portugal, as últimas grandes exposições foram na Fundação Calouste Gulbenkian, no Museu do Oriente e no Museu Nacional de Arte Antiga, as duas últimas individuais.

 

Associar o nome Bela Silva a um lenço de seda é, no mínimo, redutor. A artista tem trabalhado sobretudo nas áreas da cerâmica e da azulejaria e um painel de azulejos na estação de metro de Alvalade, em Lisboa, ao qual é difícil ficar indiferente. No dia 2 de fevereiro, há uma nova exposição, novamente na galeria Alecrim 50. Chama-se “Le Tango de Nos Amours” e volta a pôr o ênfase nas técnicas de desenho e colagem. É o resultado de amores e desamores, se bem que Bela Silva foca-se muito mais nos primeiros.

 

In OBSERVADOR, 13/01/2020

January 12, 2018